quarta-feira, 28 de novembro de 2007

o triunfo dos ratos...

hoje, pela mão iluminada de Alexandre O’Neill, um “poema pouco original do medo”.

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos

Não gosto do medo, e ainda menos dos “ratos”! Se bem que, também tenho os meus momentos de zoomorfose e, volta e meia viro um desses espécimes.
Actualmente?! Medo de, por hesitação, incapacidade ou falta de jeito natural, tropeçar na hora de saltar o muro para o outro lado, e ficar ali estendida no “quase”. Idiotice, muito provavelmente, mas ainda assim, uma dessas que podem mais que o espírito mais optimista, e vão deitando por terra a crença absoluta no sucesso.

Que se acalmem, no entanto, os espíritos mais preocupados, que não estamos em fase de alarme, a milhas que me encontro de ideias de fracasso e desistência. “Eu consego”, e mai nada!

beijito audaz:)

p.s. reli-me... ainda que pareça, o acima exposto não é um lamento, antes simples constatação de factos! Mas, porque hoje é azul, não significa que amanhã não possa ser amarelo às pintas ;)

2 comentários:

Anónimo disse...

Um vencedor como tu: sabe k as coisas dependem de si! Enfrentas os desafios um a um e diz: Sou bom, mas vou lutar por ser ainda melhor!
FORÇA! E sem medo.
Beijinho. Lita

Anónimo disse...

alo...porque é maravilhoso, aqui vai:

"O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."


Do "teu" Miguel Torga, "Confiança"...
De mim, um xi apertado, a transbordar da mesma!!
paulo :)