sábado, 1 de dezembro de 2007

aviso à tripulação


ora, desde que entrei em medicina que é um tal de amigos a desejar que termine rápido e, que de preferência, siga pediatria, já que vão “precisar de médico grátis e à disposição p’rós putos”!
pois bem, agora que estou a estudar obstetrícia (a 1ª das especialidades, bem vistas as coisas), parece-me bem inverter os papeis e deixar um recado:

tenho exame daqui a 10 dias, e isto parece bem menos complicado, e muito mais interessante do que julguei ao princípio. Uma vez que práticas só fiz de ginecologia, e até gostava de pôr as mãos na carne, façam o favor de começar a tratar, quanto antes, da parte de inventar barrigas crescidas (e não falo de pinchos e cerveja!). Com o resto não se preocupem, que eu cuidarei para que tudo corra bem e, se tiver dúvidas pergunto, a quem possa ajudar!

de qualquer forma, e para deixar a situação bem esclarecida, da parte de tratar deles depois de saírem da barriga, encarregam-se vocês, que isso já foge do meu departamento!

beijito... assim
ana:)

p.s. ia escrever “beijito obstétrico”, mas a imagem a que alude parece-me pouco apropriada, de modo que ficamos assim, pode ser?! Ah, e perdoem o devaneio acima...deve ser o tico a sofrer por antecipação com o que vão ser as próximas semanas de hibernação, chiça!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

o triunfo dos ratos...

hoje, pela mão iluminada de Alexandre O’Neill, um “poema pouco original do medo”.

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos

Não gosto do medo, e ainda menos dos “ratos”! Se bem que, também tenho os meus momentos de zoomorfose e, volta e meia viro um desses espécimes.
Actualmente?! Medo de, por hesitação, incapacidade ou falta de jeito natural, tropeçar na hora de saltar o muro para o outro lado, e ficar ali estendida no “quase”. Idiotice, muito provavelmente, mas ainda assim, uma dessas que podem mais que o espírito mais optimista, e vão deitando por terra a crença absoluta no sucesso.

Que se acalmem, no entanto, os espíritos mais preocupados, que não estamos em fase de alarme, a milhas que me encontro de ideias de fracasso e desistência. “Eu consego”, e mai nada!

beijito audaz:)

p.s. reli-me... ainda que pareça, o acima exposto não é um lamento, antes simples constatação de factos! Mas, porque hoje é azul, não significa que amanhã não possa ser amarelo às pintas ;)

domingo, 25 de novembro de 2007

"não gosto de paredes" - foi o q'ela disse

Algum pintor mais afoito que os demais, achou por bem dar por ultrapassados o castanho, o fogo e o amarelo outonais, e vestir Gredos de prata. E que aposta sensacional resultou da ousadia...”uma mulher de sonho”! :)

Aparte a paisagem avassaladora (e infelizmente impossível de descrever), a caminhada foi fantabulástica. Foi o mais próximo que já estive de ser um cabrito do monte (que também os vi, além de raposas, abutres e até um veado imponente!)... e também de perder nariz, orelhas e dedos à conta da temperatura (ou antes por falta da mesma, digamos em abono da verdade) e do vento glaciar que nos emboscaram de repente, enquanto escalávamos (e eu praguejava e rezava ao mesmo tempo) uma encosta com 50 cm de neve, até à cabeza del Tormal, a 2198m de altitude.

Lembro-me de estar numa luta acesa com os elementos e as pernas e... no momento seguinte tinha um buff (além do lenço polar que já levava), óculos de sol, um gorro, unas polainas (é qualquer coisa parecida com umas caneleiras que protegem as calças da neve) e um par de bastões! Da minha pessoa não se via nem a ponta do nariz, mas a verdade é que, apesar do peso adicional, os restantes 20 minutos de subida, se fizeram muito mais acessíveis. Valeu-me a ajuda do grupo (são fantásticos), as minhas super-botas, e o “orgulho tuga” que não me deixa dobrar antes de partir ;)

Prueba superada, dizem eles! Cá por mim, adorei tudo. Parece que passei o dia num desses documentários do Discovery Channel (só que neste falavam espanhol – estava dobrado!) e, aconselho vivamente a experiência. Ainda não tenho as fotos todas, mas deixo umas pinceladas para aguçar o apetite...

















































bjico a -5 ºC:)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Imposible no estar a gusto en salamanca :)

Digam-me lá se não tenho razão?!

Na 6ª-feira pelas 11 da noite estou a deleitar os ouvidos e a alma num concerto fenomenástico do “Federico Lechner Tango&Jazz Trio” (5 aéreos, pa que conste - máxómanos como em Portugal, né?!).

A malta tá cansada. A malta vai para casa. A malta salta da cama (ainda embalada pela música da noite anterior) pelas madrugadoras 6 a.m. porque tem autocarro às 7h na Plaza de España. A malta (vulgo la niña, la pinta e la sta maria) embarca num dia indescritível, adoptada por um grupo fantástico, para viver mais uma experiência inesquecível: senderismo en la Sierra de Gredos ;)

Ora, é natural que a malta assim curta, né?!

Ah, não acreditam?!?! Então vejam isto:











































aviso: cuidado com os orejones... a ana é a melhor pessoa para explicar o efeito, mas posso adiantar que alperces em aguardente (depois de 3 - 4 meses de incubação), a 2200 m de altitude solta a língua e dá vontade de rir durante cerca de 2h :D


beijito a mil:)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

freeze!

Não é uma ordem, antes a constatação obrigatória daquilo em que se converteu a minha cidade (não “afines”, doce aveiro, serás sempre a minha eleita!)... uma arca frigorífica, portanto. Ora, consequentemente (quem leu à 1ª?!), eu acabei transformada num esquimó, está bom de ver!

Definitivamente (gosto de advérbios, e então?!) o S. Pedro está apostado em restaurar a credibilidade na nimesulida, sem se deixar intimidar por qualquer tipo de problema de consciência. Claro está que, para ajudar a montar o circo, os aquecedores da faculdade têm estado próximo da fusão, potenciando assim a eficácia táctica do referido santo.

Eu, cá por mim, e ainda que tenha dado luta, já sucumbi à vontade superior, e acabei agarrada aos AI durante uns dias (abençoado diogo), a fim de sair da gripe/virose/constipação/o que seja que me acertou em cheio e sem meiguice.
De qualquer forma, do primeiro ataque (e esperemos que, a haver mais, ainda venha longe o próximo) já me safei, de modo que, tirando a congestão nasal e a tosse (+/- produtiva, segundo a vontade do pulmão) crónicas, cá me vou safando!

beijito salutar (há que atrair energias positivas) :)

p.s. este texto foi pensado ontem quando abri a porta do prédio às 8:00 am. hoje, a bem dizer, o panorama melhorou um bocadito, se bem que continuamos longe dos 27º desejados!

domingo, 4 de novembro de 2007

salvé o dia 19 de outubro ;)


ora, 13 dias passados sobre a tão ansiada “fiesta de las batas”, parece-me finalmente pertinente falar do assunto ;)
agora que estão reunidas todas as fotos, processada toda a informação (que é como quem diz, curadas as ressacas e recuperado tudo o que é suposto recordar), recontadas até à exaustão todas as peripécias experimentadas (e que vão ter de suprir a nossa ânsia de nova festa das batas até ao ano que vem), e vencida a falência multiorgânica em que nos deixou a vivência de mais um San Lucas (geralmente o dia mais longo do ano – creiam-me, isso do solstício é treta que vos fizeram engolir), já é possível abrir o livro.
sem culpas imputáveis ao meu mau-feitio, no entanto, deixo-o aberto na primeira página, já que isto das batas é impossível de perceber sem experimentar... como se uma qualquer entidade superior (na volta, o tal do santo patrono) criasse um campo sobrenatural que impossibilita o acesso ao comum mortal. Aceder ao código que permite entender “as batas” na sua essência, tem como pré-requisito constar entre os eleitos, estar e experimentar, na certeza de que este será sempre um dia memorável no calendário.
Isto tudo (e assegurando desde já a ausência de comissão pela publicidade aqui efectuada) para vos dizer que é do vosso interesse aceitar o próximo convite à participação na maior festa da USal - quem sabe, talvez até seja boa ideia começar a preparar desde já o corpo e o espírito... que o primeiro embate tem por hábito ser o mais violento (e por masoquismo ou culpa da inércia, o que mais deixa vontade de regressar)!

beijito divertido :)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

há peças e marcos...

...e peças que são marcos. E quanto a essas, ainda que mude a forma como encaixam no meu puzzle, não muda o colorido que lhe dão, ou o brilho que as torna diferentes das demais. E como marcos, não deixam simplesmente de ser... o ser é que é diferente. A ver se me explico: passam a significar ASSIM, quando antes o faziam ASSIM.

bexo destes :)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

quem conta um conto...


...convém que termine a tarefa, certo?! Assim sendo:

Ynari tinha aprendido com o homem pequeno que um sítio fica muito perto se quisermos que esse sítio esteja perto de nós. Caminharam muito mas não estavam cansados, e assim chegaram à primeira aldeia. Ynari bateu as palmas e o soba da aldeia veio falar com eles.
- Bom dia, mais-velho – Ynari cumprimentou. Mas o mais-velho não escutou porque era surdo. Então Ynari falou com ele por gestos e ele entendeu.
- Bom dia, menina – disse por gestos o mais-velho.
- Diz-me uma coisa: esta aldeia está em guerra?
- Sim, estamos em guerra com outra aldeia (...) porque nós não ouvimos os passarinhos, e eles ouvem! E nós também queremos ouvir os passarinhos, as quedas de água, a voz das pessoas – gesticulou o mais velho.
(...)
- Se eu vos ensinar a ouvir os passarinhos, vocês deixam de estar em guerra?
- Sim, nós queremos saber usar a palavra “ouvir”.
- Muito bem, então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E vou ensinar-vos a palavra “ouvir”.
(...)
... A fogueira já estava acesa, já todos tinham posto o seu bocadinho de água na cabaça, quando Ynari disse algumas palavras, e depois ouviu-se a palavra “permuta”. Com a catana do mais-velho ela cortou uma trança e deitou-a na enorme cabaça.
- Agora vão todos dormir... – pediu Ynari.
No dia seguinte, quando acordaram, ainda saía fumo da cabaça enorme, e em cima dela estavam muitos passarinhos de muitas cores a cantar. O mais velho da aldeia desatou a dançar alegremente, porque podia ouvir.
Ele quis saber onde estava a menina das cinco tranças, mas ela já não estava na aldeia... e já não tinha cinco tranças...
A menina das quatro tranças caminhava com o homem pequeno em direcção à segunda aldeia, que era a aldeia dos que não podiam dizer palavras...
(...)
Sabes, homem pequeno – começou a falar Ynari. – Estou muito contente por ter descoberto a minha magia (...) Quando chegares à tua aldeia, vai falar com a velha muito velha que destrói as palavras e diz-lhe que eu mandei por ti uma palavra para ela destruir...
- Queres que ela destrua a palavra “guerra”?
- Sim, Explica-lhe o que vimos e o que ouvimos. Acho que é uma palavra que ela vai querer destruir.
(...)
- Quando nos voltamos a ver? – perguntou Ynari.
- Sempre que quisermos.
- Mas tu vives tão longe...
- Há muitas maneiras de se ir muito longe – disse o homem pequeno. (...) – Experimenta viajar no coração do humbi-humbi...

E como dizem os mais velhos, foi assim que aconteceu.

chiça, hoje estiquei-me, não foi?! anyway, uma boa causa justifica mais uns minutos a olhar para o monitor (I hope)

beijito à troca (e à distância...) :)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

one fine day:)

Não é pelo prazer de adiar o final da história de ynari, antes porque não posso deixar de dar a merecida importância ao meu domingo (culpa da net que eu não tenha partilhado isto no dia). Estive com a cris na II Marcha Ecocultural - Arribes del Duero en Trabanca, e foi uma delícia...

Saímos com o resto do grupo, pelas madrugadoras 8:30 em direcção a Trabanca. Aí, fomos distribuídos em grupos de 50 pessoas e iniciámos a prometida caminhada... que terminou ao fim de pouco mais de 4 horas e 11 Km de paisagens lindas, lições de ecologia e de história da região, verdadeiras contagens de montanha, muita conversa, encontros fortuitos com burros simpáticos, vitelos alucinados, cães pastores e ovelhas “que pareciam vacas”... enfim, um sem fim de experiências coloridas! De regresso à aldeia tornámos útil a espera pelo almoço, e fizemos uma soneca dessas que abrem o apetite, estendidas ao sol. Pelas 4 da tarde, estávamos a degustar uma bela feijoada, à qual se seguiu a grelhada mista, a fruta e, para nossa surpresa “café do pote” com biscoitos. Um manjar, ideal para recarregar baterias!
A tarde foi de actividades e, como não tínhamos lugar no barro, dedicámo-nos à jardinagem. Abençoada hora, porque descobrimos nova vocação a decorar os jardins de Trabanca (se isto da medicina der pó torto, sempre temos um plano B para colocar em prática). Aliás, fomos de tal modo eficientes, que tivemos de trazer uma planta “de regalo”, em reconhecimento dos serviços prestados (somos assim, as tugas...onde vamos, encantamos! eh!eh!). Ao fim de hora e tal a “chafurdar” na terra e a fazer desenhos com pedras coloridas, ainda houve tempo e energia para regressar uns anos atrás e... jogar à macaca! Isso mesmo, e foi bestial, uma barrigada de riso.
Pelas 19 horas, foi tempo de dizer adeus aos jardins, ao passeio e ao descanso... No caminho de regresso ainda tentámos jogar “o primeiro a falar é um ovo podre” (cris speaking), mas os espanhóis não foram na conversa e montaram arraial no autocarro, de modo que o sono reparador até Salamanca se ficou apenas pela intenção.
Chegámos a casa às 20:30, 12 horas passadas desde a saída, portanto, com a algibeira cheia do tudo que vivemos e a certeza de que este foi “um dia em cheio”!

beijito a sorrir:)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

"troca justa"?! isso...


- Ah... diz-me uma coisa – Ynari olhou para o homem pequeno e mágico. – Todos somos mesmo mágicos?
- Sim, todos. Mas cada um tem de descobrir a sua magia.
- Eu queria descobrir a minha...
- Já não falta muito – disse o homem pequeno e mágico enquanto se levantava. – Já não falta muito, Ynari.
(...)
- Não temos uma magia para te dar, tens de ser tu a descobrir a tua magia... Todos os cacimbos nos reunimos aqui, para destruir palavras que já não servem, e inventar algumas que vão servir para alguma coisa. Nós conhecemos a sombra da tua magia, mas só tu podes saber onde está a própria magia. Hoje queremos oferecer-te uma palavra e dar-te a fórmula.
Ynari sorriu, estava contente, sentiu que todas aquelas palavras lhe eram muito “úteis”.
- Leva contigo a palavra “permuta” – disseram-lhe.
- E a fórmula? – perguntou Ynari.
- A fórmula está dentro do teu coração.
(...)
Ynari foi-se deitar e teve um sonho com muitas palavras novas. Durante o sonho, um velho muito velho que explica o significado das palavras explicou-lhe o que queria dizer a palavra “permuta”. Ela fez muitas perguntas a esse velho muito velho e finalmente pensou que uma permuta era uma troca justa, em que alguém dá alguma coisa e também recebe algo, pode não ser do mesmo tamanho, ou da mesma cor, ou até do mesmo sabor... Mas Ynari entendeu que numa permuta é bom que duas pessoas, ou dois povos, fiquem contentes com o resultado dessa troca.
(...)
- Eu acho que já descobri a minha magia – disse a menina.
- Podes vir comigo a cinco aldeias?
- Posso, de quiseres que eu vá contigo...
- Quero. Quero que vejas o que eu vou fazer e que depois vás à tua aldeia dar um recado meu à velha muito velha que destrói as palavras.

... e porque a conversa já vai extensa, deixamos a história de “Ynari, a menina das cinco tranças” por aqui – na esperança de vos aguçar a curiosidade a ponto de quererem voltar para saber mais.
beijito pequenito:)

domingo, 21 de outubro de 2007

Já sei fazer isto com fotos? ;)


Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas e se chamava Ynari (...) Certa tarde, já o sol se punha, Ynari ouviu um barulho. Não eram os peixes a saltar na água, não era o cágado que às vezes lhe fazia companhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande. E embora ele não fosse do tamanho dos homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou.
O homem pequenino andava devagarinho, e devagarinho se aproximou:
- Olá! – cumprimentou
(...)
- E lá na tua aldeia são todos pequeninos?
- Sim, somos todos mais pequenos do que vocês, quer dizer, depende daquilo que entendemos por “pequeno”. Não achas?
- Nunca tinha pensado nisso. Sempre achei que uma coisa menor, fosse uma coisa pequena...
- Pode não ser assim... conheces a palavra “coração”?
- Conheço! – sorriu Ynari. – E não é só uma palavra, é isto que bate dentro de nós – e mostrou no seu peito onde o coração batia.
- Claro, e... O coração é pequeno para ti?
- É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o amor, os nossos amigos, a nossa família...
- Vês? – disse o homem mais pequeno que ela. – Às vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...
(...)
- E quem te faz as tranças?
- Ninguém me faz as tranças, porque elas nunca se desfazem... A minha avó diz que eu já nasci com as tranças e que um dia vou perceber porquê.

beijito assim :)

p.s. outro dia continuamos a história... tem muitas coisas coloridas para partilhar, vão ver ;)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

..."incomoda como andar à chuva" :)

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…


Hoje apetece-me este!

Às vezes sou assim... tão deliciosamente Caeiro - o senhor não acertava tudo, é verdade, mas esta filosofia de não ter filosofia, apenas sentidos... é de mestre, há que admitir (ainda que nem sempre fácil de aplicar ao quotidiano). De qualquer forma, enquanto me fôr possível ir tendo pequenos rasgos desta lucidez, acho que vou conseguir manter-me saudável.

beijito sentido:)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

sou um girassol!

porque sim.
porque não consigo evitar ser a flor mais divertida quando te vejo assim:
a subir, mais que a descer;
a seguir em frente, mais que a derrapar;
a soar, tu e ela, como um só;
a procurar a perfeição naquilo que fazes;
a rir na cara dos fantasmas e dos monstros reais, mais do que a escondê-la na almofada;
a dar o corpo ao manifesto ao jeito carpe diem, sem medo do que vai ser amanhã;
a acreditar que, por muito negro que se ponha o cenário, as coisas podem (e vão) melhorar;
a lutar para que o equilíbrio regresse e se vá mantendo por perto...

...por isso, e sem abreviaturas, sou um girassol e gosto muito de ti:)

mana gande:)

p.s. que me perdoem os restantes leitores, comentadores e afins... mas eu tinha mesmo que deixar esta msg.

sábado, 13 de outubro de 2007

ontem estive em Fátima...

Foi estranho, foi diferente do de sempre, porque não foi intenso. Não sei porquê, se calhar inibiu-se-me o sentimento ante a majestosidade da nova basílica. Antes dizia-se a religião, “o ópio do povo”, parece ser que agora adoptaram nova táctica, e decidiram cativá-lo (ao povo) com obras monumentais - ainda que continuem a preferi-lo igualmente ignorante, e mais fácil de encarneirar, portanto. E fui dar com gente deslumbrada, e até uma senhora que esfregava as mãos na estátua do João Paulo II e depois no pescoço e no peito - não sei se para se proteger ou purificar, mas fiquei a pensar que, a continuar assim, habilita-se a algum dia apanhar alguma micose ou outro tipo de bicheza.
A minha tia interrogava-se de forma retórica, sobre a finalidade da nova basílica: “para abrigar os peregrinos?!” Oh tia, antes disto nunca deixámos de aparecer por medo ao frio (assim como todos os outros), e quando aqui vimos, não é abrigo de betão que procuramos. É monumental, e ainda assim não chega. Nunca vai chegar, por muito grande ou muito alto que se construa...
E depois, foi aquela homilia - mais uma justificação para a ostentação de riqueza por trás de nós, e uma missa em latim - não sei se para ficar bem na fotografia, se para que se tornasse a ladainha imperceptível (comigo resultou a segunda opção, a pontos de me cansar e me apetecer vir embora). E mais, caiu demasiado mal a história do templo que Cristo se propunha a reedificar em três dias (falava do próprio corpo), no mesmo discurso em que se glorificava o colossal templo de betão agora parte do Santuário (tudo porque a Santa pediu, foi o que ele disse).

No fim de tudo, dou por mim a pensar que, ainda que não esmoreça a fé no Deus (porque não deixo de acreditar), pelo menos entristece-me a ideia de fazer parte de uma Igreja que cada vez mais anuncia um caminho que não trilha e do qual se vem afastando, e da qual eu própria me sinto tão dolorosamente distante nestes momentos. Acima de tudo, continuo a achar que a exorbitância de dinheiro que ali enterraram, teria sido melhor empregue em sopa e pão, orfanatos, escolas e programas de reabilitação de obras e pessoas.

beijito herege, né?!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

foi o q'ele disse...

Não é minha a pérola, nem inédita a partilha, mas há "boas razões" suficentes para o apresentar aqui:

- define, sem dúvida, muito do que é a ana, de modo que tinha de figurar entre as primeiras coisas da minha gaveta;
- é sábio o suficiente, para que possa ser lido pela enésima vez e, ainda assim ensinar algo de novo;
- ir "por onde me levam os meus próprios passos" não dói como já tive medo que doesse, e ainda que às vezes custe, é altamente satisfatório na altura de fazer balanços;
- delicio-me com este poema, quero muito guardá-lo na gaveta, e a gaveta é minha!

"Vem por aqui" – dizem-me alguns com olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos
(há nos meus olhos ironias e cansaços).
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre da minha Mãe.


Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam os meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...


Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós.
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
E sinto a espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo que se animou...
Não sei para onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!


Cântico Negro, José Régio

beijito do contra
ana:)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

pelo direito à mudança de vontade ;)


Até os "maiores desejos" sao relativos.
Acredito que o universo conspira para que se cumpram as vontades mais profundas de cada um. De verdade, creio na existencia de uma série de forças que se organizam de modo a que as coisas corram de feição e possamos encontrar o equlíbrio de fazer aquilo para que nos sentimos vocacionados.

- e que não se confunda vocação com destino, que isso é próprio do espírito preguiçoso, incapaz de arregaçar as mangas e decidir de acordo com a própria vontade (palavra desconhecida pelos exemplares desta espécie, na assustadora maioria dos casos) -

De qualquer forma, a dúvida é: quando se altera o desejo que pediríamos ao génio da lâmpada (por motivos diferentes da sua realização), as referidas forças universais metem pé ao travão, reduzem para segunda e saem no desvio seguinte? Ou a máquina está de tal modo programada que não permite alterações da rota em função da volatilidade do espírito? Bem vistas as coisas, este panorama, além de pouco animador, sería altamente injusto... que a dita alteração de vontades é, geralmente, consequência da alteração das condições iniciais.
Eu por cá, prefiro pensar que há aspectos ocultos na relação entre o génio e o aladino, e que o rapaz, humano que era, também teve direito à indecisão. Assim sendo, e também porque é nisso que quero acreditar... sim, se as vontades podem mudar com os tempos (e o povo costuma falar acertado), também o universo é flexível ao ponto de conspirar ora num sentido, ora noutro, com o objectivo último de que se cumpra a felicidade de cada um.

beijito a desejar diferente (e ainda com todas as forças)
ana:)

domingo, 23 de setembro de 2007

manifesto - desde 27 de julho à espera de se poder fazer público :)

Há confusões do caraças!
Há os pais e há os filhos... e os pais que não entendem (ou se recusam terminantemente a reconhecê-lo) que a história de uns e outros, não pode nem deve (a bem da saúde de todos) ser escrita pela mesma mão.
Eu entendo que os mais velhos desejem com todas as forças (e se esforcem ao máximo nesse sentido) um caminho brilhante, pintado dos tons mais alegres, para as respectivas crias. Não entendo nem aceito, contudo, que o queiram percorrer por eles. Tão pouco que se gastem (e que nos gastem a paciência a nós) a decidir a direcção a escolher, o meio de transporte, a bagagem, a companhia, e a música para a viagem!
Não está certo! Não é saudável! É cansativo. Mais, dolorosamente cansativo para o filho que exaspera a tentar perceber o mundo com os seus sentidos, pensar por si, a procurar o seu contexto! Até porque, as duas histórias estão íntima e definitivamente ligadas por esse elo que chamamos filiação, e que implica outros como o amor, o respeito e o desejo de felicidade mútuos... sem necessidade de trelas apertadas, chantagens castradoras, projecções de umas vidas noutras. Pais e filhos serão sempre pais e filhos, os dois lados da relação humana mais perfeita (tanto mais, aliás, quanto maior a liberdade com que ambos a vivem). E as misturas das vontades, desejos e medos de uns e outros, as invasões de umas vidas por outras, resultam, obviamente, em confusão. Porque, ainda que a princípio possa fazer algum sentido (para o usurpador dos referidos marcos individuais) e pareça um exercício controlado... o caos produzido acaba inevitavelmente por se revelar. Na forma de filhos descontentes consigo e com a vida, porque são marionetas que ilustram uma história contada pelos pais, de pais frustrados e infelizes, porque os filhos não aceitaram a “sugestão” de sair na segunda à esquerda, como lhes indicaram ou, no pior dos cenários, na forma de crias e progenitores infelizes e atreitos a discórdias...resultado da luta pela libertação, no caso dos primeiros, e pela manutenção (ou estreitamento, nos casos mais problemáticos) do elo que já não é mais de união entre ambos!
A história é clara! Pais e filhos, uns com outros, mas não uns nos outros. Para que as histórias de ambos sejam dotadas de um propósito e de uma individualidade que, bem vistas as coisas, faz parte da pessoa e da vida de cada um.

beijito determinado:)

sábado, 22 de setembro de 2007

viagens...

Hoje o meu relógio largou a correr e só parou na infância. E foi delicioso. Reencontrei um senhor que já era apenas uma memória das férias de verão da ana pequenita! Um desses velhinhos de pele enrugada e muito curtida pelo ar salgado da praia. Desses que falam pouco, mas têm histórias para nos entreter um dia inteiro. Dos que sabem o que dizem as núvens e conhecem de cor as manias do mar. Os que acertam sempre no “tempo que vai fazer amanhã” e sabem a data exacta em que o vento vai deixar de arrastar núvens para cima da nossa praia.

(considerações de 20-7-07... no algarve, de férias com os papás e o mano)

let the party begin ;)

Até já estou a imaginar os comentários: pfff...gaveta de coisas...é mesmo “coisa de gaja”... Pois, desenganem-se. Assegura a proprietária da dita gaveta tratar-se antes de “coisa de ana”, mais do que de fêmea. E de utilidade elevada, por sinal.
E mais, arrisco mesmo considerá-la espaço essencial na vida de qualquer pessoa. Venha daí a voz do primeiro que após 5 minutos de busca em casa ou no escritório, não der com um exemplar desta espécie. A verdade é que, ainda que de modo alheio à vontade, ou mesmo à consciência do proprietário, a gaveta de coisas acaba por se instalar, primeiro dissimulada... assumindo depois papel preponderante na organização (ou antes como consequência da sua inexistência, digamos em abono da verdade) de cada um.
Na minha gaveta de coisas guardo... coisas, justamente! Importantes e nem por isso! Geralmente as não pertencentes a género algum. Sim, não são canetas nem brincos, mas também não são cd’s nem cuecas. São pontas soltas no novelo da minha arrumação, que guardo porque sim, mas que não encaixam noutro espaço, tão bem como na minha gaveta de coisas :)
Assim imaginei este espaço, a minha gaveta de coisas que são ideias e descobertas, e partilhas e desabafos, mil e uma coisas, coisas do arco da velha, coisas de ontem e de hoje. Uma forma de guardar coisas de mim nos que me queiram ler. Os ventos que ora me agitam a alma, ora a embalam docemente... as vivências que me fazem doer o peito do tanto que o apertam, e as que o deixam a explodir, tamanha a quantidade de sentimento que carregam... as coisas que são e também definem a ana.
Ora, está então oficialmente anunciado o meu regresso (desta vez efectivo, até porque não tenho 3 barrigas para alimentar – recordem-se os 3 fotologs que acabei por desleixar... por arrumar no fundo da gaveta, portanto) às partilhas, sérias ou idiotas, próprias ou alheias, coisas que não posso nem consigo guardar só para mim :)