sábado, 13 de outubro de 2007

ontem estive em Fátima...

Foi estranho, foi diferente do de sempre, porque não foi intenso. Não sei porquê, se calhar inibiu-se-me o sentimento ante a majestosidade da nova basílica. Antes dizia-se a religião, “o ópio do povo”, parece ser que agora adoptaram nova táctica, e decidiram cativá-lo (ao povo) com obras monumentais - ainda que continuem a preferi-lo igualmente ignorante, e mais fácil de encarneirar, portanto. E fui dar com gente deslumbrada, e até uma senhora que esfregava as mãos na estátua do João Paulo II e depois no pescoço e no peito - não sei se para se proteger ou purificar, mas fiquei a pensar que, a continuar assim, habilita-se a algum dia apanhar alguma micose ou outro tipo de bicheza.
A minha tia interrogava-se de forma retórica, sobre a finalidade da nova basílica: “para abrigar os peregrinos?!” Oh tia, antes disto nunca deixámos de aparecer por medo ao frio (assim como todos os outros), e quando aqui vimos, não é abrigo de betão que procuramos. É monumental, e ainda assim não chega. Nunca vai chegar, por muito grande ou muito alto que se construa...
E depois, foi aquela homilia - mais uma justificação para a ostentação de riqueza por trás de nós, e uma missa em latim - não sei se para ficar bem na fotografia, se para que se tornasse a ladainha imperceptível (comigo resultou a segunda opção, a pontos de me cansar e me apetecer vir embora). E mais, caiu demasiado mal a história do templo que Cristo se propunha a reedificar em três dias (falava do próprio corpo), no mesmo discurso em que se glorificava o colossal templo de betão agora parte do Santuário (tudo porque a Santa pediu, foi o que ele disse).

No fim de tudo, dou por mim a pensar que, ainda que não esmoreça a fé no Deus (porque não deixo de acreditar), pelo menos entristece-me a ideia de fazer parte de uma Igreja que cada vez mais anuncia um caminho que não trilha e do qual se vem afastando, e da qual eu própria me sinto tão dolorosamente distante nestes momentos. Acima de tudo, continuo a achar que a exorbitância de dinheiro que ali enterraram, teria sido melhor empregue em sopa e pão, orfanatos, escolas e programas de reabilitação de obras e pessoas.

beijito herege, né?!

3 comentários:

Anónimo disse...

eu sinceramente, nem parei muito em frente da tv pra saber das inaugurações e mais n sei q, e coisa e tal.. revolta-me mto, a imponência da coisa, do dinheiro lá gasto.. e nós que ja vimos o q é nao ter mm nd, sim pq em portugal, pode haver pessoas sem nd , m com boa vontade de 3º arranja-se qq coisa. esse dinheiro aliviava a fome de tanta criança.venha quem vier, eu sou mais plo povo.

abracinho solidário

Anónimo disse...

A táctica que nunca quiseram adoptar, pelos vistos dá resultado...a contar pelos milhares de pessoas que se atropelaram nos últimos dias ao querer visitar tal obra: umas por procurarem o tal "abrigo" e reforçar a sua crença; outras só porque sim, parece-me!! assisti, pela tv(i), a uma cena deprimente. Tratava-se de um senhora a quem pediram para comentar o apelo do Papa Bento XVI (na homilia transmitida em ecrã gigante no santuário de Fátima) relativamente à necessidade de centrar o culto mais na Santíssima Trindade e menos na figura mariana. Então o comentário foi o seguinte: "ai, eu não percebi nada do que ele disse, mas achei muito lindo!! É triste...minha senhora, o Cardeal não fala a sua língua, nao é? Chegamos à conclusão que foi à festa...a da basílica!
Já acabo! Sei que não serei a melhor exemplo para fazer um comentário a tudo isto, mas é a minha opinião...contudo, falta-me ainda conseguir perceber o que sinto quando visito aquele lugar...e é bom! Terei que ir lá mais vezes...

beijico, paulo

Inês Rosa disse...

Engraçado que ainda ontem eu e a minha mãe estávamos a comentar exactamente a coisa... E creio que a Igreja aproveitou-se da boa vontade dos peregrinos para construir algo que realmente não era tão necessário como a "sopa e pão, orfanatos, escolas e programas de reabilitação de obras e pessoas", tal e qual como dizes... Dá vontade de ser como eu, uma rapariguita que nem baptizada é e que vê as coisas por fora...

Beijicos pour toi :)