quarta-feira, 31 de outubro de 2007

quem conta um conto...


...convém que termine a tarefa, certo?! Assim sendo:

Ynari tinha aprendido com o homem pequeno que um sítio fica muito perto se quisermos que esse sítio esteja perto de nós. Caminharam muito mas não estavam cansados, e assim chegaram à primeira aldeia. Ynari bateu as palmas e o soba da aldeia veio falar com eles.
- Bom dia, mais-velho – Ynari cumprimentou. Mas o mais-velho não escutou porque era surdo. Então Ynari falou com ele por gestos e ele entendeu.
- Bom dia, menina – disse por gestos o mais-velho.
- Diz-me uma coisa: esta aldeia está em guerra?
- Sim, estamos em guerra com outra aldeia (...) porque nós não ouvimos os passarinhos, e eles ouvem! E nós também queremos ouvir os passarinhos, as quedas de água, a voz das pessoas – gesticulou o mais velho.
(...)
- Se eu vos ensinar a ouvir os passarinhos, vocês deixam de estar em guerra?
- Sim, nós queremos saber usar a palavra “ouvir”.
- Muito bem, então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E vou ensinar-vos a palavra “ouvir”.
(...)
... A fogueira já estava acesa, já todos tinham posto o seu bocadinho de água na cabaça, quando Ynari disse algumas palavras, e depois ouviu-se a palavra “permuta”. Com a catana do mais-velho ela cortou uma trança e deitou-a na enorme cabaça.
- Agora vão todos dormir... – pediu Ynari.
No dia seguinte, quando acordaram, ainda saía fumo da cabaça enorme, e em cima dela estavam muitos passarinhos de muitas cores a cantar. O mais velho da aldeia desatou a dançar alegremente, porque podia ouvir.
Ele quis saber onde estava a menina das cinco tranças, mas ela já não estava na aldeia... e já não tinha cinco tranças...
A menina das quatro tranças caminhava com o homem pequeno em direcção à segunda aldeia, que era a aldeia dos que não podiam dizer palavras...
(...)
Sabes, homem pequeno – começou a falar Ynari. – Estou muito contente por ter descoberto a minha magia (...) Quando chegares à tua aldeia, vai falar com a velha muito velha que destrói as palavras e diz-lhe que eu mandei por ti uma palavra para ela destruir...
- Queres que ela destrua a palavra “guerra”?
- Sim, Explica-lhe o que vimos e o que ouvimos. Acho que é uma palavra que ela vai querer destruir.
(...)
- Quando nos voltamos a ver? – perguntou Ynari.
- Sempre que quisermos.
- Mas tu vives tão longe...
- Há muitas maneiras de se ir muito longe – disse o homem pequeno. (...) – Experimenta viajar no coração do humbi-humbi...

E como dizem os mais velhos, foi assim que aconteceu.

chiça, hoje estiquei-me, não foi?! anyway, uma boa causa justifica mais uns minutos a olhar para o monitor (I hope)

beijito à troca (e à distância...) :)

3 comentários:

Anónimo disse...

...delicioso!!

um bjo doce, à menina das tranças...:)
paulo

p.s. - acredito que se vão voltar a ver!!

Tartaruga disse...

...lindo, lindo, mesmo lindo:)

beijo de mano pequeno que não é (pequeno, portanto!)

Anónimo disse...

Infelizmente, não me acho competente para comentar algo tão bonito, isto é diferente, pelo menos na minha modesta concepção.